sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Planejamento na Saúde

Nas últimas duas décadas no Brasil houve sinais de melhora das condições de saúde da população, alguns destes resultados puderam ser observados no censo demográfico de 2000 e criaram expectativas otimistas diante dos índices sociais e da mortalidade infantil. A queda de vinte pontos percentuais na mortalidade infantil, nos anos 90, deixou alguma surpresa. Estes dados contrastam com alguns aspectos observáveis de deterioração dos níveis de emprego, crescimento econômico e renda.
Nas décadas dos 80 e 90, destacaram-se no cenário dos problemas de saúde brasileiros três questões mais importantes: 1.o crescimento das taxas de mortalidade por violência, cujas estatísticas pularam para o segundo lugar entre as causas de óbitos no quadro geral da mortalidade nacional; 2.o aparecimento da epidemia de AIDS, doença antes desconhecida, cujas taxas têm sido crescentes e se espalhado entre os mais diversos setores da sociedade; 3.o aparecimento de uma grande proporção de pessoas idosas, num país antes reconhecido por ser uma nação de jovens (MINAYO, 1995; MONTEIRO, 1995).
A geografia humana no país ganhou nova feição e os problemas de saúde da população seguiram estas mudanças. À transição demográfica correspondeu também numa transição epidemiológica. A menor mortalidade infantil e o prolongamento do tempo de vida dos idosos geraram um aumento populacional. As migrações aos centros urbanos concentraram o povo em locais que dão facilidades, porém nem sempre com as condições mínimas de salubridade. Os processos de tecnificação da produção rural, de migração e de concentração urbana, somados ao aumento espetacular da população, geram ou intensificam novos hábitos e novas formas de trabalhar, que acarretam nos municípios sem o devido planejamento numa piora da qualidade de vida de todos, resultando num grande desafio de saúde pública.
Muitas das melhorias sentidas pelo povo brasileiro resultaram de políticas sociais mais universais, iniciadas após o fim do regime militar. A implementação dessas políticas tornam-se importantes, pelo seu impacto sobre as condições de vida da população, em especial sobre os mais pobres. Os técnicos da saúde pública brasileira sempre souberam da importância do papel das políticas sociais, do saneamento básico e da saúde publica, em alguns casos, o que faltou foi apenas o interesse politico em realiza-las.
A descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS) seguramente compôs o principal fator que proporcionou melhoras nos indicadores de saúde. Após mais de uma década de implementação prática do SUS e de aperfeiçoamento de sua base jurídica, as prefeituras municipais já deveriam vêem-se instadas a proporcionar melhores atendimentos a população, pois muitos projetos ainda são custeados na integra pelos governos federal e estadual. Não basta apenas organizar a oferta local dos serviços de saúde, é importante, também, entender a existência de nexos entre a saúde e o modo de vida, entre a saúde e as características demográficas, entre a saúde e o que consumimos e entre a saúde e o meio ambiente. O combate à pobreza e à desigualdade social impõe crescentes reflexões e gestos práticos às políticas de saúde. A estruturação da atenção básica, os programas de atenção primária, as farmácia básicas em unidades de saúde, as ações de vigilância sanitária, entre outras coisas, nos grandes e nos pequenos municípios, deveriam estar em andamento por todo o país. Muitos ainda apresentam dificuldades, mas estou certo, que um dia o poder publico local também já estará melhor preparado para atender e compreender as necessidades da sua comunidade. Desvendar e debater sobre saúde, ecologia, políticas publicas e outros assuntos relevantes ao povo tornou-se imperativos do Século XXI, assim como denunciar as relações entre miséria e saúde foi um imperativo do Século XX. Pensem nisso...

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